Florestan Fernandes
Florestan Fernandes nasceu em São Paulo, em 1920 e faleceu em 1995. Foi filho único da imigrante portuguesa Maria Fernandes, não chegou a conhecer o seu pai. Foi criado por sua madrinha Hermínia Bresser de Lima, que lhe despertou o interesse pelos estudos. Viveu entre os dois mundos, o da casa da madrinha e os cortiços da cidade. Abandonou os estudos no terceiro ano do primeiro grau e para ajudar a mãe começou a trabalhar como engraxate. Após completar 17 anos, foi incentivado a retornar aos estudos. Matriculou-se em um curso específico e estudou entre 1938 e 1940 o equivalente à sete anos de estudos. O intelectual Florestan Fernandes se desdobrou em muitos papéis diferentes: foi professor universitário, escritor, sociólogo (considerado o fundador da Sociologia Crítica no Brasil) e deputado (eleito pelo PT).
Nomeou a Fundação Centro de Educação do Trabalhador Professor Florestan Fernandes, entidade de ensino profissionalizante, alinhada com as ideias de Florestan, que batalhou a vida inteira pela educação e pela cidadania plena dos brasileiros. Além disso, cabe lembrar que a Escola Nacional Florestan Fernandes, batizada em sua homenagem, tornou-se referência internacional por unir a prática com a teoria política, possibilitando uma formação política de organizações populares de todo o mundo.
Cabe destacar que a Autoridade Académica da Universidade de Coimbra outorgou grau de Doutor Honoris Causa ao Professor Florestan Fernandes.
Uma curiosidade: sabia que Florestan chegou a ser professor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso? Veja mais neste artigo sobre Os 5 folcloristas brasileiros que você precisa conhecer.
Dissertação de mestrado: A Organização Social dos Tupinambá
Resumo
Este estudo sobre os Tupinambá nasceu da análise dos textos escritos pelos cronistas coloniais, como Gabriel Soares de Sousa e João Antonio Andreoni, afinal a nação indígena já de muito estava extinta quando Florestan se dispôs a estudá-la. O original em seus escritos está na nova interpretação que dá ao meio de vida desses índios. E a partir de então passa a demolir os mitos de degradação daquela gente. O primeiro desses mitos é a absoluta falta de leis entre as tribos. Eles viviam sim sob fortes e seguros códigos. Também desmistifica o as características a eles atribuídas sobre o seu nomadismo, seu desapego a terra e o seu desprezo ao trabalho. Quebrando todos os tabus, todas as mentiras, Florestan Fernandes provou que os Tupinambá tinham lei, fé e rei. Era, enfim, um povo, ao seu modo, culturalizado.
Tese de Doutorado: A função social da guerra na sociedade tupinambá
Resumo
A obra é composta de três partes interdependentes. A primeira concentra densa descrição de toda a tecnologia de guerra Tupinambá. As armas, as estratégias, os rituais e, enfim, os objetivos e propósitos pelos quais lutavam. A riqueza dos detalhes e a preocupação em mostrar como se desenrolava a guerra é exposta ao mesmo tempo em que se desenha uma das teses de Florestan: a guerra não se explica por si só. Seu sentido deve ser analisado num campo mágico-religioso que orientava seu objetivo mais manifesto – a vingança –, mas ao qual deveriam ser agregados outros propósitos, como os econômicos e territoriais. Dessa forma, Florestan vê a guerra enquanto função social, ou seja, a guerra tem sua origem e seu fim na manutenção da sociedade Tupinambá. Na segunda parte do livro, o autor descreve os pontos de conexão entre a guerra e a organização dos papéis sociais: a educação das crianças, os atributos das faixas etárias e dos gêneros, os rituais de passagem, o status conferido aos guerreiros e aos pajés, enfim, a relação entre subjetividade e estrutura social. Cabe ainda ressaltar dois grandes feitos dessa obra e que estão presentes na terceira e última parte do livro, sua conclusão. O primeiro deles é afastar, com rigor científico, a distinção evolucionista entre sociedades simples e complexas. Obviamente, Florestan, escrevendo em meados do século passado, ainda utiliza termos como “civilização primitiva”, mas, contudo, defende com clareza a necessidade de se encarar a organização social indígena a partir de sua complexidade. Por fim, a contribuição para uma teoria geral da guerra.
Outras obras
Livro: Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina
Resumo
Livro: A integração do negro na sociedade de classes
Resumo
Neste livro, Florestan reconstrói o drama que o negro vivera na difícil adaptabilidade aos moldes da sociedade de trabalho livre (nos anos que sucederam à Abolição), fruto de um passado rústico e degradante social, cultural e moralmente. Para isso, ele utiliza-se de dados empíricos coletados em épocas distintas, muitas histórias de vida que são mostradas no decorrer de todo o livro. Em muitos momentos da obra, encontra-se, também, as chamadas de outros pesquisadores, como Roger Bastide, e a utilização de dados estatísticos de censos de diferentes anos. O conteúdo do livro é imprescindível a todos aqueles que se interessam pelo tema “raças”. Deve-se estar ciente de que é uma pesquisa que não deve ser generalizada a todas as regiões brasileiras (e o autor adverte para isso), já que a situação da cidade de São Paulo possui algumas peculiaridades, as quais foram trabalhadas no decorrer do texto.
Livro: A Revolução Burguesa no Brasil
Resumo
O livro foi redigido em momentos distintos: as duas partes iniciais (“As Origens da Revolução Burguesa” e “A Formação da Ordem Social Competitiva”) em 1966, e, a terceira parte (“Revolução Burguesa e Capitalismo Dependente”), em 1974. Esse último ensaio complementa os demais blocos, avançando o acompanhamento histórico anterior – que se detinha na época da abolição da escravatura – até o presente. Mas traz também alterações relevantes no que tange à atribuição de sentido ao processo histórico.
Livro: Da guerrilha ao socialismo - a revolução cubana
Resumo
A revolução cubana encerrava uma época histórica e, o que é mais importante, abria a época histórica nova, impregnada de nacionalismo libertário, de anti-imperialismo, de socialismo e comunismo revolucionário. Ao longo de seu livro, demonstrou que o caminho para o socialismo em Cuba foi peculiar e, por isso mesmo, não seria passível de ser “copiado”. Ao contrário do que afirmava Che Guevara, que acreditava que o processo cubano poderia ser repetido em outras realidades. Assim, o processo revolucionário em sua particularidade social e histórica enquanto tal, acreditava Florestan Fernandes, seria a saída para além do capital.
Livro: Em busca do socialismo
Resumo
Livro: O negro no mundo dos brancos
Resumo
Esta obra é fruto de um estudo sobre a situação do negro e do mulato na sociedade brasileira, vista a partir de São Paulo. Dentre os vários temas focalizados, destaca-se a análise dos movimentos sociais do negro e mulato. Tomando a história social do Brasil, desde a abolição da escravatura, o autor aborda o esforço persistente e difícil do negro e mulato no sentido de conseguir a redefinição social do ex-escravo, como trabalhador livre e como cidadão. Centrado na preocupação com a supremacia da “raça branca” e o controle do poder que ela exerce em nossa sociedade, o livro ajuda a avaliar a situação real do negro na sociedade brasileira.
Livro: Significado do protesto negro
Resumo
São textos que relacionam capitalismo e racismo para que se compreenda a desigualdade racial e a condição de pobreza da população negra. Neste contexto, desde os primórdios da década de 1970 o movimento negro contemporâneo desenvolvem a luta e o combate ao racismo. Tal movimento tem como uma de suas estratégias a denúncia da discriminação, do preconceito e do racismo existente no país e o desmascaramento da farsa da democracia racial alardeada pela ditadura militar - no Brasil não existia racismo! Quarenta anos depois, podemos afirmar que essas estratégias foram exitosas. A pretensa democracia racial tornou-se indefensável e o racismo é visto como um dos impasses a se rem solucionados para a construção de um Brasil mais justo e igualitário.
Livro: O PT em movimento
Resumo
Reflexões sobre a construção de um instrumento político: contribuição ao I Congresso do Partido dos Trabalhadores veio a público pela primeira vez com o título PT em movimento, em 1991. Era o momento do primeiro congresso nacional do partido, realizado em São Bernardo do Campo dois anos após a primeira candidatura de Lula à presidência. O sucesso da campanha de 1989 trazia questões de dimensões inéditas para o partido, principalmente em relação às necessidades de se fazer alianças para viabilizar a chegada ao poder e sua sustentação. Florestan Fernandes, à época atuando como deputado pelo PT, estrutura sua contribuição defendendo a atualidade da tarefa de se construir um instrumento político da classe trabalhadora para a transformação social considerando-se os desafios do contexto.
Livro: Que tipo de república?
Resumo
A obra trata-se de uma coletânea de artigos de recorte muito definido. Publicados na Folha de São Paulo a partir do histórico movimento das “Diretas Já” (1984) e avançando até a convocação do Congresso Constituinte (1986), os artigos cobrem o fim da ditadura militar (1985) e o subsequente nascimento da chamada “Nova República”. Que tipo de República ela será?, questiona então Florestan Fernandes. Enquanto a primeira parte chama-se justamente a Conjuntura política, já os artigos da segunda parte são organizados segundo o título “Os intelectuais em perspectiva”.
Livro: Sociedade de classes e subdesenvolvimento
Resumo
No livro, Florestan aponta que os contornos que adquiriram momentos importantes da história brasileira do século XIX, como o processo de independência política do país e a abolição da escravidão - e a consequente emergência do trabalho livre -,contribuíram para a constituição de grandes desalinhos na formação brasileira, visto que as mudanças jurídico-políticas não produziram as alterações socioeconômicas necessárias para a construção de uma ordem social competitiva. A inclusão da economia brasileira no mercado mundial vicejado pelo sistema capitalista é analisada pelo autor em suas diversas faces. De acordo com ele, a modernização que se configuraria para um país posicionado na periferia do processo civilizatório levaria à formação de uma sociedade de classes dependente.
Resumo
O foco desta análise é a mudança social. Em um plano econômico e social a mudança atua sobre cada círculo social alterando as relações entre eles, essas mudanças geram alterações internas, obrigando os grupos a se relacionarem de maneira diferente, a fim de alcançarem os seus objetivos. Florestan diz que para haver avanços reais é necessário que a intelectualidade e o conhecimento se adequem aos novos grupos sociais formados pelo capitalismo os quais se opõem à estagnação cultural promovida pelo tradicionalismo. Quer dizer, para que ocorra o “arranco econômico” é preciso que ocorra uma grande mudança na herança cultural tradicional. Os intelectuais não fazem as mudanças, mas são peças fundamentais para que elas ocorram.
Livro: Clássicos sobre a Revolução Brasileira (com Caio Prado Júnior)
Resumo
Este livro reúne contribuições dos autores à revolução brasileira: a formação da consciência de classe para viabilizar a luta pelo poder. Para os autores, é necessário definir uma teoria revolucionária que combine, na prática, várias táticas de luta, que unam entre si as reinvindicações concretas e o pequenos combates com o fortalecimento de uma consciência de classe revolucionária e uma disposição de luta inabalável.
Veja também, outros escritos sobre Florestan Fernandes:
- Florestan Fernandes - da coleção de livros sobre educadores e pensadores da educação, de organização do MEC.
Confira as entrevistas com Florestan Fernandes: