Bernardo Élis

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Bernardo Élis, advogado, professor, poeta, contista e romancista, nasceu em Corumbá de Goiás, GO, em 1915, e faleceu em 1997, na mesma cidade. Seu pai, também poeta, Érico José Curado, era descendente direto de Inácio Dias Paes, casado com a segunda filha de Bartolomeu Bueno da Silva, que levou-o ao interior do Brasil em busca de ouro e acabou fundando o estado de Goiás. Assim, foi também um “Anhaguera”. Em 1939 transfere-se para Goiânia, onde exerceu a função de secretário municipal e foi prefeito em duas ocasiões. Escreveu em diversos periódicos populares de Goiás. Foi militante do Partido Comunista do Brasil (P.C.B.), sempre demonstrou ser um defensor do materialismo histórico e dialético. Mesmo quando se afastou do partido, militou como assessor do deputado José Porfírio (histórico líder camponês da batalha de Trombas e Formoso e desaparecido político no período do gerenciamento militar fascista pró-ianque). Bernardo Élis fez da sua literatura um protesto popular e revolucionário. Élis, por meio de suas intensas pesquisas, transfigurou para suas obras momentos históricos da realidade goiana, como uma leitura possível da vida social, cultural, política, econômica e psicológica das gentes em Goiás, construindo o seu legado a gerações de futuros estudiosos.

Neste documentário, a TV ALEGO mostra mais detalhes sobre a vida deste importante escritor goiano. 

 

Livro: Ermos e gerais

Resumo

   A partir da sua região, Bernardo Élis produzira uma literatura permeada pela realidade humana e social. Ermos e gerais, de 1944, seu livro de estréia, situa-se no que podemos denominar um regionalismo que segue o paradigma do romance de 30. As suas narrativas compreendem casos, fábulas típicas em linguagem típica, que ilustram a fala e a conduta de um grupo apartado dos centros de decisão. São narrativas que encenam histórias num espaço aberto, desabitado, e num tempo degradado, sem grau, sem qualidade, sem dignidade.

Átila Teixeira escreveu um artigo sobre os 70 anos de Ermos e Gerais. 

 

Livro: O tronco

Resumo

   Este romance, publicado originalmente em 1956, é o quarto livro de Élis, e apresenta uma versão fictícia de fatos históricos ocorridos no início do século XX no norte de Goiás (atual estado do Tocantins), que promoveram uma intensa disputa entre jagunços e soldados do Exército Brasileiro, representantes do coronelismo e do poder público, respectivamente. Apesar de ser uma obra de ficção, diz-se que tais fatos teriam ocorrido na cidade de Dianópolis. Em 1968, o cineasta João Batista de Andrade adquiriu os direitos da obra para adaptá-la para o cinema. Tal adaptação, entretanto, só ocorreria mais de trinta anos depois, em 1999. Veja mais sobre o filme, aqui.

 

Livro: Caminhos e descaminhos 

Resumo

   Nesta obra, o autor aborda, em di­ver­sos con­tos, da te­má­ti­ca ru­ral no Es­ta­do de Goiás em tem­pos de ou­tro­ra. No­ta­da­men­te no con­to “Mo­a­gem”, re­ve­la o de­su­ma­no tra­ba­lho nos en­ge­nhos de ca­na no in­te­rior go­i­a­no. Uma obra ma­gis­tral que, in­fe­liz­men­te, ain­da ocor­re nes­ses ocos de mun­do na ex­plo­ra­ção do tra­ba­lha­dor pe­los pa­trões. Segundo o cotejo crítico, Bernardo Élis atinge sua maturidade artística e mostra grande conhecimento da técnica do conto. Tal obra mereceu o seguinte comentário de Guimarães Rosa:” Ninguém em país nenhum, nenhum tempo, parte alguma escreveu coisa melhor”.

 

Livro: Veranico de janeiro

Resumo

   A obra é composta por 6 contos: “Veranico de Janeiro”, “A enxada”, “Rosa”, “O padre e um sujeitinho metido a rabequista”, “ Dona Sá Donana”, e “Os fuxicos da fonte do Taquari”, que destacam a opção do autor por evidenciar a sabedoria do mundo e do cotidiano como forma de apreender a realidade. Sem qualquer dúvida, uma obra prima, cujo autor possui um profundo olhar crítico em relação à realidade e o usa para descrever situações sociais absurdas, como a permanência das relações escravocratas na sociedade brasileira.

 

Livro: Marechal Xavier Curado, criador do Exército Nacional

Resumo

   A obra reúne relatos que compõem um tratado genealógico da família Curado, da qual o autor é parte. Construiu seu discurso de biógrafo tendo em vista destinatários específicos – os acadêmicos da Academia Goiana e Letras. Desde a genealogia familiar em Meia Ponte, nos idos da Colônia do século XVIII, até a Independência de 1822, Xavier Curado é o fio condutor de uma narrativa linear, unitária, de um personagem que se mantém constante em atitude e personalidade: firme, correto, honesto, corajoso, etc. O sentido do texto não é literário e seu objetivo, portanto, é historiográfico.

 

Livro: Caminhos dos gerais

Resumo

   Caminhos dos Gerais ocupa lugar de relevo entre as coletâneas de Bernardo Élis, por reunir alguns dos contos mais característicos do escritor. São eles: Nhola dos anjos e a cheia de Corumbá, já traduzido para o alemão na antologia organizada por Curt Mayer, Ontem como hoje, como amanhã, como depois, qualificado por Guimarães Rosa como um dos melhores contos de “todas as literaturas, em todos os tempos”, e talvez uma vida, talvez uma lenda, que se inscreve numa nova posição do contista diante do regionalismo. São contos como entrecho realista em que a linguagem da região se incorpora à narrativa para realçar as paisagens naturais e sócio-econômicas. 

 

Livro: André Louco 

Resumo

   Neste conto, a figura do anormal não aparece apenas para discutir o que é doença mental, mas para demonstrar as relações, os medos e anseios que toda uma comunidade faz em torno da loucura. Assim, André não corresponde apenas à figura do louco que deve ser excluído, mas demonstra como essa exclusão acontece a partir dos causos e histórias que surgem no limiar das relações sociais. Da liberdade à prisão, Bernardo Élis traduz um determinado costume em Goiás: o aprisionamento de seus doentes mentais. A eliminação da figura da esfera pública tornara-se uma prática comum desde cedo no estado, o cárcere aparece como única saída para a conturbada relação entre o louco e a sociedade tida como normal. A literatura cumpre um papel essencial de possibilitar através de personagens fictícios narrar vivências que estão no plano do real.

 

Livro: Apenas um violão

Resumo

   A obra trata da mudança da capital da cidade de Goiás para Goiânia, ocorrida em 1937. O conto retrata o ritmo de vida na antiga sede da capital pouco antes de sua mudança para a recém edificada Goiânia. Na ficção, assim como fora dela, Goiânia passou a representar a promessa de um futuro de modernidade e progresso que seria atingido por meio do abandono das marcas do passado na sociedade goiana, dentre elas, inclusive, a antiga capital - não é por acaso que muitos moradores da cidade de Goiás migraram para a nova capital em construção, como bem descreve o conto. Nesse sentido, a metáfora da construção da cidade de Goiânia é muito significativa historicamente, dado que, com ela, é também reconstruída a identidade goiana, baseada em novos valores modernos.

 

Livro: Goiás em sol maior 

Resumo

   Nesta publicação, de 1985, os temas vão desde as personalidades políticas, passando pelas curiosidades da cultura e dos costumes locais, até a apresentação dos primeiros nomes que compuseram o quadro artístico goiano. Ainda nessa obra, o autor fala sobre o cenário político, econômico e social que compunha a aura reinante, quando do projeto de mudança da capital do Estado. Nele, são abordados temas sobre o lançamento da pedra fundamental de Goiânia, incluindo o discurso do então governador Pedro Ludovico, até a efetiva transferência dos poderes para a nova sede. Entre as principais discussões do texto em questão situam-se: os efeitos da empreitada de Ludovico; o perfil da arte goiana na nova capital, predominantemente art deco; o processo de busca pela comunicação com o norte, bem mais próximo ideologicamente do sul e, ainda, da moderna estrada que se abre, a BR-452, batizada também como a primeira autovia do Estado.

 

Livro: Os enigmas de Bartolomeu Antônio Cordovil 

Resumo

   Esse trabalho expõe a figura do professor régio em gramática, que viveu em Pirenópolis até 1800, data de sua morte. O protagonista do texto escreve seus primeiros poemas na segunda metade do século XVIII, e é para defender sua posição de precursor da literatura em Goiás e fazer lembrar esse importante nome das letras que Bernardo Élis lhe dedica mais de cem páginas. Para tanto, ele examina vários documentos históricos, percebendo como os enigmas de sua história se manifestam em outros autores literários, documentos e dicionários. Como se nota, esta obra, fruto de pesquisas de cunho propriamente historiográfico, confirmam a preocupação do autor com o resgate da história local e a longa e persistente tarefa de expor sua terra através de sua pena.

 

Livro: Jeca Jica Jica Jeca.

Resumo

   Nesta obra, seu único livro de crônicas, Élis traz a lume o texto “Nossos heróis indígenas”, último escrito deste conjunto. Nesta esteira, podemos perceber que tanto o conto, “Joãoboi”, quanto a crônica, “Nossos heróis indígenas”, não só estão ligados entre si pela época em que provavelmente foram escritos, mas compartilham também da mesma temática: o extermínio histórico indígena e o desaparecimento de sua cultura. Neste sentido, lamenta o autor o horror da carnificina do processo genocida e etnocida que foi o colonialismo europeu.

 

Livro: Chegou o governador 

Resumo

   Com o cuidado meticuloso em levantar os dados para seu trabalho, Bernardo Élis transfigura os fatos da realidade e os vínculos históricos e políticos se entreveem na construção do enredo. Por isso, considera-se Chegou o governador um romance de reconstrução histórica em que o episódio recriado apresenta como cenário a antiga Vila Boa, hoje Cidade de Goiás. O romance se desenvolve em torno da figura do novo governador da capitania, recém-enviado pela Coroa Portuguesa. Trata-se de um jovem conde (Conde de Palma), e o enredo trata de suas atividades políticas e de seu envolvimento amoroso com a também jovem, porém plebeia, Ângela Ludovico. É no relacionamento entre o herdeiro das casas nobres de Sabugal e de Palmas e a vilaboense Ângela que se origina a polaridade do romance, em que as diferenças e conflitos sociais fazem de todas as personagens, ao mesmo tempo, dominantes e dominadas. Daí se origina a estrutura social retratada por Bernardo Élis, que remete ao tipo de sociedade que lá existia no que tange, tanto aos aspectos físicos quanto aos socioculturais.

 

Confira, também, o que escreveram sobre a obra deste importante escritor.